Que parvo que eu sou!

Confesso que nunca percebi o alarido à volta da música dos Deolinda, a suposta "música de intervenção" da nova geração, a "Que parva que eu sou".

Em vez de música de intervenção parece-me uma música fatalista, que reporta o sentimento de reclamação inata de toda a gente hoje em dia. Estudei e agora onde está o meu emprego?? Há muito desemprego, não consigo ganhar dinheiro, adio tudo menos o pópó, que como é ESSENCIAL está a ser pago às prestações (a média europeia de jovens com menos de 30 anos com carro novo é de 11%, em Portugal atinge os 20%).

A vida não é fácil, há muita coisa mal feita e muita injustiça, mas há que ser pro-activo, ir construindo o seu futuro em vez de ficar à espera e ir reagindo!

Os homens da luta pegaram e bem nesta música e fizeram o "Que esperto que eu sou"

Transcrevo um comentário desta notícia do Expresso assinado por Miguel.c.g:

"reflexo, de um reflexo, de um reflexo...
e de quem ? De quem é que a música dos Deolinda era afinal um hino ?
A democratização do ensino foi umas das grandes vitórias da nossa jovem democracia.
Os Homens da Luta, ao longo de um trabalho inteligente e comprometido, têm gritado pelo menos óbvio. Neste caso, uma geração que ainda não percebeu a herança que recebeu: A oportunidade de definir o seu próprio caminho. Estudar é um investimento na formação de cada um que envolve responsabilidade política e civil. Devia ter uma maior correlação com oportunidades profissionais e com um envolvimento civil. Mas estudar é principalmente uma forma de responsabilizar o indivíduo, de o tornar mais livre e com maior capacidade de se espantar e de intervir no mundo. É um direito que foi conquistado mas é também um privilegio. Não é, nem pode ser uma forma de receber direitos adquiridos. Quanto a ser-se ou não escravo, é tão escravo aquele que precisa de quem o sirva, como aquele que sempre espera que o salvem. Entre a comiseração dos Deolinda e a sátira dos Homens da Luta, os segundo parecem-me a mim, que também faço parto da geração de que ambos falam, bem mais produtivos. Não precisamos de ter carro, casa própria com tv cabo e muito menos adiar casamentos, que se o amor não chega, como dizem os Xutos, aí é que estamos lixados porque aí assim, temos o mundo ao contrário.
Obrigado Vasco, obrigado Jel.
"

3 comentários:

Miguel Barroso disse...

Tudo depende da leitura que fazemos da letra dos Deolinda... Não me parece que a ideia por detrás da letra, seja o óbvio. A sátira, é feita à sociedade que explora, mas também a quem se acomoda nessa sociedade, a quem se queixa de a vida ser difícil, e por isso ficar em casa dos papás, mas não abdicar de comprar carro, ou de outros vicios...

Gonças disse...

Certo! então deixa de ser música de intervenção! ;o)

R.Guerreiro disse...

Hmm, tal como o Miguel disse a música vale para os dois lados. Mas com música ou sem música acho muito interessante ver os jovens finalmente a mexerem-se. A próxima manifestação contra a precariedade provavelmente não vai resolver nada, mas pode ser que as pessoas acordem (dreams...)

E também é muito correcto que existem muito jovens a coçar a micose e a andar de popó, mas também existem muitos que lutam pela sua vida, mas só vêm portas fechadas ou estágios não remunerados intermináveis (o desemprego jovem é o dobro do desemprego do total da população... dá que pensar). E não há nada mais desesperante que estar a trabalhar e não receber um único cêntimo. Se a situação afectasse só os xulos que não querem fazer nada não se via tantos jovens a fugir do país. Só no meu circulo de amigos já saíram 3 e mais 2 vão sair este ano, todos licenciados e pessoas mais do que aptas que se fartaram de trabalhar de graça.

É complicado. Há uns que têm o que merecem, mas há quem mereça mais e não o consiga ter. E isto aplica-se a todas as idades, mas hoje em dia com principal incidência nos jovens.